O
PERFIL DO MINISTRO DE MUSICA
"... tenha
visto um filho de Jessé, o belemita, que sabe tocar e é um valente guerreiro,
fala bem, e é de bela aparência e Iahweh está com ele". (I Sm 16, 18)
O ministro de
música, antes de tudo, deve ser um homem de Deus. Deve ter uma vida
reconciliada com Deus e os homens em vista da missão dada por Ele mesmo:
evangelizar com a arte musical. Deve ser como Davi, que além de tocar era um
valente guerreiro que falava bem e de boa aparência, no entanto o mais
importante era que o SENHOR estava com ele: ele era um homem de Deus.
A voz do Bom
Pastor
Quando se fala
de perfil do ministro, está se falando do pensamento do ideal para o serviço,
que se constrói na vida cotidiana. Assim, enumeramos o que vem a ser luz e
motivação diante do que Deus quer realizar:
1-
Silêncio
"... um
tempo para falar e um tempo para calar". (Eclo 3,7)
O ministro de
música precisa valorizar devidamente o silêncio dentro do seu ministério,
sabendo discernir quando e como fazê-lo, este momento não deve ser infecundo,
mas fecundo, pois é exatamente neste silêncio que Deus o visita e irriga a
semente que Ele plantou; a postura adequada é de escuta e acolhimento ao que
Ele plantou, a postura adequada é de escuta e acolhimento ao que Ele tem para
dar.
É importante o
silêncio no ministério, mas também é importante o silêncio do ministro de
música, é sobretudo o próprio ministro que deve saber o tempo de calar e o
tempo de ação, canto, evangelização.
Muitas
experiências com Deus se dão no silêncio que se faz em Sua Presença e
Majestade, vemos então a importância do silêncio, pois se há experiência há
testemunho, e qual seria o sentido de ministrar música se não sou testemunha?
Se no meu canto não há verdadeira evangelização? Tudo parte do meu silêncio
orante diante de Deus e então começa a verdadeira missão, fundamentada na
Vontade de Deus.
2-
Obediência
"Eu sou a
serva do Senhor:
faça-se em mim
segundo a tua palavra". (Lc 1,38)
Os que por Deus
são chamados a serem ministros de música recebem com este chamado graças que o
capacitam a corresponder esse chamado, dentre elas a obediência.
O que é a
obediência do ministro de música senão fazer a vontade de Deus? Um músico
eleito não faz mais a sua vontade, mas a de Deus, a não ser que sua vontade
coincida com a de Deus... Mas sabemos que nem sempre é assim, então Deus nos
concede a graça para que se possa ser fiel a Ele.
Na verdade não
existe ministro de música não obediente, pois ser ministro de música não é uma
escolha do músico, mas de Deus, e se o músico diz Sim ele correspondeu ao
chamado Divino, em outras palavras: obedeceu.
A primeira
pessoa a quem o ministro de música deve obediência é a Deus. As pessoas que
devemos obedecer são na verdade, Mediadores da autoridade concedida por Deus.
Devemos obediência as nossas autoridades, não por elas mesmas, mas porque a
elas foi dada a missão de representarem a Deus.
O músico deve
ser atento a sua vivência da obediência, pois Deus lhe chama constantemente a
obediência para ser feliz, na oração pessoal, na leitura de Sua Palavra, na
eucaristia ou através da mediação das autoridades constituídas por Ele, de uma
maneira muito especial, as autoridades eclesiásticas, mas também o coordenador
do ministério, por exemplo.
A obediência é
uma grande fonte de bênçãos, eficaz instrumento que o Senhor utiliza para
purificar a nossa vontade nos tornando livres para seguir Jesus Cristo. (cf.
ECCSh 131).
a eficácia de
uma evangelização depende totalmente da obediência, sem a obediência tocar ou
cantar será em vão, de nada valerá..., pelo menos para nós, embora parcialmente
edifique os outros.
3-
Profissionalização
Além de uma
necessidade e de ser vontade de Deus, a profissionalização é uma fonte de
eficiência diante do empenho que é exigido no serviço, não deixando, de exigir
um empenho próprio para conquistá-la, com entusiasmo e perseverança. É muito
importante ressaltar que ela está abaixo do amor a Deus, não pode ser
prioridade quando não há vida concreta de oração, pois será um simples sinal
deste amor.
Na velha batalha
entre a vida espiritual do ministro e o seu desejo de progresso, no tocar ou no
canto, que só será verdadeiro se for fruto do progresso interior, pode-se dizer
que profissionalizar-se é viver um dos aspectos necessários no cumprimento da
missão própria do ministro de música, afinal Deus fará na humanidade do servo a
aptidão natural aperfeiçoada pelo conhecimento, estudo técnico, cuidados
básicos com os devidos instrumentos utilizados, desde a bateria até as cordas
vocais.
Haja, contudo,
um cuidado quando se busca a técnica, com a influência de instrutores(as) de
música que tenham, além de uma visão, uma vida ou ideologia não evangélica,
especialmente na área específica da qual estamos tratando. Isto para que não
haja quebra de uma reta intenção do coração, muito menos a direção que deve
tomar o ministro no seu serviço. Se a técnica é instrumento de desvio, melhor
seria operar a graça na "fraqueza" do servo. Ser um profissional no
Reino pede uma maturidade e uma abertura para que Deus continue sendo o centro
das opções e da vida do músico.
4-
Humildade
O humilde, pousa
os olhos no Senhor: "Tu sois Santo, Tu sois Altíssimo." Sabe que por
si só nada tem e nada é; reconhece imediatamente o bem que em si existe e as
qualidades que possui, mas tem sempre em mente a expressão: Que tens tu que não
tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias como se não o tivesses
recebido? (I Cor 4,7); humilha-se no reconhecimento do seu próprio nada e da sua
absoluta dependência de Deus, e mantém-se no lugar que lhe compete.
O humilde vê com
clareza que tudo recebeu de fora, tanto na ordem da natureza: vida, corpo,
inteligência, talento, saúde e força, olhos, membros, etc; como na ordem da
graça. "Deus produz em nós o querer e o agir" (Fil 2,13), "não
que por nós mesmos sejamos capazes de pensar coisa alguma, porque a nossa
suficiência vem de Deus" (II Cor 3,5); nenhum pensamento, nenhuma decisão
salutar, grata a Deus, nenhuma obra boa, nem mesmo a mais íntima, nenhuma
oração. Nenhum ato de fé ou de caridade provêm do servo nem pode-se tomar
completamente para si. Mesmo a cooperação com a graça, o fato de não se abusar
dela e de se lhe corresponder inteiramente, é fruto da ação de Deus na vida do
ministro. Quão exatas são as palavras do Apóstolo: "Que tens tu que não
tenhas recebido?" Nada, absolutamente nada !
Ele sabe,
todavia, que há algo exclusivamente do homem: o pecado. O humilde sabe muito
bem que, abandonado a si mesmo, só disso é capaz: de pecar. Se não caiu ainda
nestes ou naqueles pecados, não o deve a si mesmo, mas unicamente a Deus que,
na sua infinita misericórdia, o preservou: isolado não teria podido
defender-se. Como o publicano do Evangelho, reconhece-se pecador, e indigno de
levantar os olhos ao céu, indigno da estima e do afeto dos homens; merecedor de
ser tratado apenas como é: um pecador.
É dizer como São
Francisco: "Quem és Tu, quem sou eu". É olhar para si com os olhos de
Deus para conhecer-se, acolher-se e amar-se com o Seu amor. Como
transbordamento de uma conversão que se dá constantemente a partir deste
conhecimento saberá o ministro ser, na sua missão, o que Deus quer, o que Ele
pensa, o que Ele espera.
5-
Serviço:
Aquele que serve
"deve 'fazer-se tudo para todos' (I Cor 9,22) a fim de conquistar todos
para Jesus Cristo... Particularmente, não imagine ele que lhe é confiado um
único tipo de almas..." (CIC 24)
Uma forte
característica do bom ministro de música é o serviço: lavar os pés dos outros
com água nova, amar a todos, dar-se sem medir, fazer a vontade de Deus...
sempre no louvor, fazendo uso de uma linguagem atualizada e própria para cada
instante. Aqui se pode destacar tanto a renovação do repertórios utilizados nas
diversas assembleias (congressos, cursos, missas...), como o uso dos carismas
em benefício do povo ao qual se serve.
É importante,
neste aspecto do serviço, refletir que:
SER
DA LINHA DE FRENTE
é servir primeiro, buscando imitar mais de perto o Senhor, sofrendo as
primeiras consequências, chegando antes e saindo depois.
ESTAR
NA OFENSIVA E NA DEFENSIVA
é servir na batalha espiritual, ao Senhor e ao seu povo. Dispor tudo para Deus
indo contra a ação silenciosa, sutil ou mesmo nítida do inimigo, intercedendo
para que se abra o céu num derramamento de graça. Estar atento ao que possa
romper com a ação de Deus e pela graça, pela unção, defender a assembléia,
"o coração do homem", contra os ardis do demônio, ou mesmo, contra as
próprias tendências da carne.
O
ministro de música está:
- A serviço da
Trindade: Servir ao Pai, por Cristo, no Espírito, fazendo, por sua vez, a
vontade de Deus - como Jesus, pobre, obediente e casto - na unção do Espírito,
precisando ir onde Deus mandar, esperando, vivendo e crendo n'Ele. Por amor...
- A serviço do
povo de Deus: Ë para o povo que existe o ministério de música. Este é auxílio,
porte da graça. Deus realiza por meio de homens para alcançar outros homens.
Não é fazer o que o povo quer e sim saber o que Deus quer fazer em favor do
povo. Servir bem é, portanto, dar somente o que vem de Deus para saciar a fome
e a sede do povo.
- A serviço da
Igreja: Ministramos o que cremos e não a nós mesmo, e não a cultura, o
conhecimento por ele mesmo, a lógica. Ministramos a verdade conhecida e
experimentada, a graça recebida e transbordada, a fé acolhida e vivenciada. É
indispensável a coerência entre a vida do servo e a fé professada pela Igreja,
afinal, como Igreja as partes formam um todo que necessita estar em unidade e
esta unidade exige conhecimento, busca da verdade, renúncia das próprias
mentalidades geralmente formadas pelos ditames do mundo.
6-
Disponibilidade
Numa visão
generalizada aquele que deseja cuidar com fidelidade da missão à qual o Senhor
lhe convidou a servir, necessita estar disposto a dar-se sem medidas.
"Amar é dar-se até doer". (Madre Teresa de Calcutá). O ministro de
música é igualmente chamado a sair de si, a servir. Não é um ministério para os
que se servem, nem tão pouco para os que preferem servidos, mas para os que
preferem oferecer gratuitamente o que recebem de Deus e o fazem por gratidão ao
próprio Deus. O desejo do sacrifício deve, assim, ser como um motor que leve o
eleito a sempre ir além, a dispor não somente as suas possibilidades e
potências ao Senhor e aos irmãos, mas ao sacrifício cotidiano do que é lícito
para unir, como a viúva no templo, o que de nós é mais precioso em favor da
edificação do Reino.
Existem,
contudo, algumas formas de servir-se no ministério: não participar de ensaios;
não comparecer às formações; cantar ou tocar apenas o que se gosta ou quando se
está bem, ou ao menos considera estar bem. Quem está neste rol precisa buscar a
sua verdade pelo fato de ainda não ter entendido que ministério é serviço a
Deus e ao outro.
7-
Maturidade humana
Ao falarmos
sobre o tema maturidade humana imediatamente imaginamos que seja o momento da
vida do homem no qual alcançou o discernimento pleno para dirigir sua vida e
realizar grandes coisas sozinho, no entanto, na vida cristã, o homem atinge a
maturidade no momento em que conhece a sua verdade, sua pequenez, sua fraqueza,
lança-se inteiramente nas mãos de Deus e colabora com a sua ação.
Exatamente porque
reconhece a sua fragilidade, sua pequenez, sabe que não pode dirigir sua vida
sozinho, necessita da ação do Espírito Santo sobre a sua natureza humana,
porque só o Espírito desenvolve perfeitamente as suas capacidades humanas,
intelectuais, espirituais, suas aptidões, até que alcance a idade madura.
Uma boa maneira
de perceber como se caminha para a maturidade é poder responder, na verdade a
algumas indagações como:
- Tenho
compreendido que necessito me relacionar intimamente com o Espírito Santo? Sou
um daqueles que agem como se o Espírito Santo não existisse? Tendo o Espírito
Santo em mim, posso continuar com uma vida medíocre?
- Sou bastante
dócil ao Espírito Santo, bastante disponível para seguir seus conselhos ditos
em segredo ao meu coração, seus misteriosos convites? Sou capaz de responder a
seus apelos pelo verdadeiro progresso que é o interior?
- Tenho
agilidade diante dos impulsos do Espírito Santo? Deixo o Espírito Santo
inteiramente livre para dirigir a minha vida de acordo com a sua vontade?
- Tenho
colaborado com todas as minhas forças com a ação do Espirito Santo para que
todas as minhas aptidões, talentos sejam plenamente desenvolvidos? Deus me deu
muitos talentos a nível espiritual, humano, intelectual e eu tenho colaborado
para que estes talentos se multipliquem?
- Nas minhas
tribulações, nas minhas dúvidas, tenho sabido invocar o Consolador? Sou eu um
obstáculo à ação do Espírito Santo em minha própria alma?
- É mais um dos
caminhos que o ministro necessita, com diligência, trilhar para servir
conformado ao Evangelho. Como ensina a Santa Madre Teresa de Jesus de Ávila:
"Quanto mais humano, mais santo".
8-
Unidade
Para que a
música seja ministrada com poder, na ação do Espírito, é preciso que haja
harmonia de relacionamento entre aquele que ministra a música e aqueles que
irão fazer uso da Palavra; entre quem anima e quem conduz a oração; entre vocal
e instrumental; entre vocais; entre instrumentistas; entre ministério e
assembleia. Enfim, a unidade, que será fruto de uma graça de oração e
docilidade à ação do Espírito, é essencial para que todos bebam de todo bem,
graça e unção que Deus deseja derramar.
Por exemplo,
após uma pregação a música a ser ministrada deve ser uma continuidade de tudo o
que foi pregado, desta maneira, não haverá quebra no que estava sendo
conduzido. Para haver esta harmonia entre a pregação e a música, o ministro
deve estar atento o tempo todo ao que está acontecendo, ao que está sendo
falado.
Em outros casos,
como a Celebração Eucarística, é preciso haver coerência entre o tom da
liturgia, conforme o tempo onde se está celebrando, e o serviço na música. Na
quaresma não se canta o glória nem aleluia, caso o ministro não seja bem
formado e faça uso de um desses cantos, estará indo de encontro com o que pede
a liturgia, e isto é uma forma de se quebrar a unidade.
Existem muitas
formas de construir ou de quebrar a unidade, cabe a cada ministro o zelo pelo
conhecimento pessoal das mentalidades que se traz quanto ao "ser" e o
"fazer" o melhor, como no que diz respeito ao conhecimento
intelectual de liturgia, oração de grupo, animação, da mesma forma, que o
conhecimento da vontade de Deus para cada instante em que se serve. Sem
docilidade e disponibilidade a Deus e aos irmãos não se constrói a unidade.
9-
Postura
Para ministrar
com poder também é preciso um cuidado com a aparência, pois o músico deve
sempre ter a postura de servo, para Jesus aparecer no seu lugar. Outrossim,
como o músico é templo do Espírito Santo (I Cor 3, 6), deve cuidar do templo
que é ele mesmo e vestir-se com sobriedade, usando roupas que não provoquem
sensualismo. Não vista-se com exuberância, mas com simplicidade. Para
facilitar, é bom até que se tenha um uniforme, algo simples, para ser usado nas
apresentações, eventos ou missas e dar um toque especial na unidade.
A postura do
músico não deve ser a de aparecer com seu instrumento ou sua voz, mas de deixar
Cristo aparecer em si mesmo. É importante que o músico cante com o corpo todo,
mas que não faça gestos exagerados nem escandalosos.
O músico não
precisa focar escondido atrás das caixas ou do seu instrumento. Há pessoas que
se escondem atrás de uma guitarra, ou de um teclado, para não deixar que Jesus
o cure e o toque!
Outra dica
importante é evitar conversas paralelas que não estão no contexto do evento e
que não hajam certos tipos de brincadeiras, durante a atuação do ministério, ou
melhor, a sobriedade caminhe ao lado de todo aquele que se dispõe ao serviço.
10- Alegria
São Tiago nos
diz: "Está alguém alegre? Cante salmos" (Tg 5, 13).
A alegria é a
expressão maior de quem tem Deus no coração. Dizia Santo Agostinho: "Um
Santo triste é um triste santo!". O coração e o rosto do músico devem
transbordar de alegria, pois não convence ninguém um cantor que ministra sem a
graça do louvor e da alegria.
"Alegre-se o
coração dos que buscam o Senhor" (Sl 105, 3).
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